Qual é o seu perfil?
- Arnaldo dos Reis Santos
- 4 de ago. de 2015
- 7 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2022

Ao trabalhar em áreas de Treinamento e Marketing convivi com alguns psicólogos, pedagogos e humanistas. Tendo eu uma formação profissional essencialmente técnica, confesso que passei um bom tempo sem compreender a linguagem e o conhecimento desses profissionais e no que eles podiam contribuir para o desenvolvimento da empresa.
Acredito que muitas pessoas de formação em exatas sofram da mesma deficiência de conhecimento e a esses dedico este post ressalvando que é uma visão simplista, como não poderia deixar de ser. Afinal, esses profissionais são humanos antes de serem engenheiros, matemáticos, físicos ou contabilistas e em geral carecem de aprender sobre coisas humanas.
Então vamos lá. O ser humano tem uma necessidade inerente de classificar tudo. Isso talvez nos facilite a compreensão do universo em que vivemos. Desde os primórdios de nossa existência aprendemos a classificar as coisas. O mais básico é relacionado a alimentação. Aprendemos a distinguir o que é comível do que não é. E aprendemos isso com base na observação de outros humanos e também em outros animais.
Mas também aprendemos a classificar tudo pela aparência, cheiro ou gosto, sem falar dos sons característicos emitidos. Daí advém incontáveis formas de identificar coisas por classes. Quem já não se deparou com o dilema: tomate é fruta?
Acontece que a mesma necessidade de classificação recai também aos seres humanos originando outra infinidade de classificações. Daí vem talvez o perfil psicológico.
Eu particularmente pensava que isso havia começado no século passado com as teorias e estudos dos pais da psicologia como Sigmund Freud, Carl Jung e outros que deram continuidade e sofisticação ao tema.
Ao ler o livro O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro, me surpreendeu uma informação no mínimo curiosa, mas que resgata um tipo de classificação psicológica talvez nunca estudado pelos ocidentais.
Explico: durante quase 800 anos o império turco-otomano dominou grande parte do chamado oriente médio e ocidente. Em sua expansão, chegaram à península ibérica, dominando também a Espanha e Portugal até que foram expulsos.
Sempre me chamou a atenção o fato deste império durar tanto tempo. E através do livro aprendi que eles ao dominar um povo davam liberdade de crença, bem como de governança. E estimulavam o comércio o que gerava riqueza.
Segundo Darcy, os turcos tinham o costume de cativar crianças dos povos dominados e os criavam em suas casas criatórias para servi-los como escravos adestrados em algumas atividades. Bem, qual escravo seria destinado a cada atividade? Aí reside o porquê de uma forma de classificação talvez a mais antiga e possivelmente originária da civilização persa na época da Mesopotâmia.
Nessas casas criatórias as crianças escravas eram observadas em sua índole e comportamento. Por fim tinham seu destino traçado de acordo com o talento ou aptidão identificado. Seriam janísaros aqueles com habilidades de cavaleiros de guerra. Seriam xipaios se identificados como covardes e assim se destinariam a serem policiais e espiões. Seriam eunucos nos haréns se não apresentassem nenhuma virtude. E por fim havia um destino talvez o mais elevado da casta de escravos. Seriam mamelucos se mostrassem talento para exercer o mando e a suserania islâmica sobre a gente das quais foram capturados.
Se você achava que a palavra mameluco era de origem tupi-guarani, enganou-se assim como eu. Os jesuítas curiosamente chamavam os filhos de portugueses e índias de mamelucos porque esses seriam treinados para exercer o mando sobre os demais índios escravos.
Bem, achei importante contextualizar minhas observações, pois sem elas, o leitor poderia não encontrar fundamento algum, especialmente se engenheiro for. Posto isso podemos seguir com um breve resumo de algumas formas de classificação usada no mundo moderno para entender e lidar com o ser humano enquanto equipes de trabalho ou de convivência.
Classificação segundo Jung
No século passado, o psiquiatra suíço C J Jung e seus seguidores Isabel Briggs Myers (1897-1980) juntamente com sua mãe Katharine Cook Briggs (1875-1968) e outros criaram uma classificação conhecida como junguiniana.
A classificação junguiniana se baseia na combinação de quatro grandes características pessoais opostas que são: Introvert x extrovet, sensing x intuitive, thinking x feeling, judging x perciving. Não me atrevi a traduzir. Daí se extrai 16 possibilidades que formam o caráter do ser humano ditando seu modo de pensar, ser e existir, preferências e gostos além de seu comportamento frente a tudo, inclusive frente a conflitos e hierarquia.
Conheça mais sobre o tema clicando aqui. Infelizmente o site é todo em Inglês. Se usa o Google Chrome, clique com o botão direito no texto da página e selecione traduzir. No Edge também é possível pedir para traduzir.
Classificação segundo a P.N.L.
Outra classificação um pouco mais simplista é a baseada na neurolinguística ou PNL – Programação Neuro Linguística. Entretanto, não é por ser simples que deixa de ser menos válida.
A PNL considera que o ser humano é movido essencialmente por 2 motivadores transcendentais: o indivíduo se move pela busca do prazer ou para evitar a dor. E se distingue basicamente pela proporção de 3 características: sinestésico, visual ou auditivo.
Fundamentalmente cada ser tende a ser mais sinestésico ou mais visual ou mais auditivo. Mas nem por isso deixa de ter os outros canais de comunicação.
A neurolinguística explica que todo ser humano tem certa dose das 3 características, mas quase sempre haverá aquela que. Essa predominância indica como a pessoa se comunica e como ela percebe e experimenta o mundo, bem como ela aprende mais facilmente.
A P.L.N vai muito mais além dando indícios do que uma pessoa está pensando pelo movimento dos olhos e também dando dicas de como influenciar cada tipo pelo uso de palavras, imagens ou sentimentos que expliquem o que você quer dizer usando o canal de comunicação adequado. Mas esse papo é mais profundo e foge do tema classificação.
Conheça mais sobre o tema clicando aqui. O site também está todo em Inglês.
Classificação segundo I.D.I
O IDI - Interpersonal Dynamics Inventory classifica o ser humano segundo seu estilo interpessoal. São 4 características preponderantes. Uma pessoa poder ser então Relator (relacional), Motivator (motivador), Processor (processador ou focado no processo), Producer (produtor).
A característica predominante de um indivíduo determina como ele é socialmente, o que ele valoriza e, por conseguinte, o que o motiva e qual sua efetividade em posições de liderança.
Assim como acontece com a PLN, essa classificação também indica como cada indivíduo se relaciona com os outros e como pode criar barreiras invisíveis ao relacionamento com consequente desentendimento e conflito.
O IDI foi originalmente desenvolvido nos Estados Unidos por Richard E. Zackrison, Ph.D. está baseada na pesquisa de Dr. David W. Merrill e Dr. James Taylor. Ao mudar-se para a Suécia Zarrickson continuou seu trabalho que hoje se encontra disponível em mais de 15 idiomas inclusive o Português.
Clique aqui e conheça mais no site sueco em sua versão em inglês.
Classificação segundo Human Dynamics
A teoria HD apresenta uma visão sobre o ser humano e seu funcionamento. É de grande impacto para a compreensão das diferentes formas pelas quais cada ser processa a informação, como aprende, como se desenvolve, como se comunica e se relaciona com as outras pessoas, como manifesta o 'stress' e como conserva seu bem-estar.
HD resultou de um estudo conduzido por Sandra Seagal e David Horne a partir de 1.979 e se fundamentou em mais de 180.000 pessoas de vários países e culturas.
No estudo foram identificadas 3 características fundamentais que indicam como o ser humano funciona. São elas a física, a mental e a emocional. Da combinação dessas 3 características são identificados 9 dinâmicas onde uma predomina seguida de uma segunda e logo uma terceira característica. Das nove dinâmicas, apenas 5 puderam ser estatisticamente validadas.
Entretanto o estudo permanece em aberto a medida que se expande além das fronteiras da China, Rússia e países de cultura islâmica, pouco acessíveis até então.
O livro que explica a teoria tem excelente tradução para o português. A teoria subsidia o sistema educacional sueco desde o fundamental, pois as dinâmicas podem ser facilmente identificadas nelas desde cedo e ajudam pais e professores a desenvolver o potencial de cada uma de forma mais humana.
Classificação D.I.S.C.
A classificação DISC busca identificar o PPA – Personal Profile Analisys. É mais uma forma que ajuda as pessoas a se relacionarem no trabalho e também identifica quais áreas cada perfil tende a apresentar os melhores resultados, sendo, portanto passível de uso na formação de equipes e contratação de colaboradores.
As 4 características são mensuradas em alta e baixa intensidade e a combinação delas indica comportamentos típicos frente a situações cotidianas.
As características são Dominance (Dominância), Influence (Influência), Steadiness (Estabilidade) e Conscientiousness (Conformidade). Segundo a teoria há 12 estilos principais.
Conheça mais sobre o tema clicando aqui. Infelizmente o site é todo em Inglês.
Há ainda o PI Predictive Index e também o 360o feed-back.
Entretanto esses dois métodos não apresentam detalhes de sua forma de classificação, mas sim de como realizam sua análise o que os assemelham a uma caixa preta para minha mente exigente.
Tive a oportunidade de me submeter ao método PI e o resultado foi bem semelhante ao do PPA e DISC em termos de acerto de meu perfil em particular. Infelizmente não tive a oportunidade de submeter-me ao 360 o e portanto não tenho opinião a dar quanto a sua efetividade.
Todos os métodos acabam por convergir e de certa forma podem se complementar. Por exemplo, a neurolinguística pode ser utilizada para melhorar a forma de comunicação entre pessoas sejam elas chefes ou subordinados, sejam elas clientes ou alunos. É na minha humilde opinião a teoria mais pragmática e fácil de aplicar. Há ainda a teoria das múltiplas inteligências porém esta ainda não apresenta um método de classificação.
O que mais fez sentido para mim foi o estudo Human Dynamics embora não esteja disponível na forma de sistema. Se você se encontra em posição de liderança, vale a pena conhecer os métodos e se aprofundar no que mais lhe convier considerando a aceitabilidade sua, da empresa, dos funcionários e o custo naturalmente. Mas se engenheiro, nem pensar em dispensar o mando ou o suporte de um psicólogo.
Entendeu porque os turcos comandaram um vasto império por tanto tempo? Pessoa certa no lugar certo observando o que alguns chamam de aptidão, outros chamam de talento ou vocação, enfim a virtude de cada um ou dom divino.
Finalizo, contrapondo minha convicção de que todo ser humano é capaz de realizar qualquer coisa aprendendo e se adestrando com técnicas apropriadas, mas uns realizarão com menos dispêndio de energia que outros obtendo mais e melhores resultados.
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