top of page

A era do parecer... ser



Interessante como as gerações são marcadas por alguns estigmas. Na época da grande depressão de 1930 provocada pela quebra da bolsa de valores teve início a geração do vale tudo para apenas sobreviver. Famílias se agarravam a religião para manter sua unidade e dignidade, pessoas se sujeitavam a programas de exaustão física visando ganhar prêmios de melhor dançarino (a).


Esses paliativos recreacionistas contrastavam com o trabalho extenuante, quase escravo para poder levar um mísero alimento para casa. Essa foi uma geração sofrida que acabou sendo envolvida na segunda grande guerra. Estou falando da geração de meus pais e de muitos outros pais, heróis sobreviventes dessa época difícil para humanidade.

Acabada a segunda grande guerra, veio a época da abundância com o fim do padrão ouro e implementação do plano Marshal de reconstrução da Europa e Japão. Surge a geração batizada de baby boomers. Essa geração trabalhava nas fábricas, nas construções, em todos os tipos de atividades de forma enérgica, pungente e feliz muito bem retratada pelo seriado Papai sabe tudo.


Apenas quem viveu pode entender. Bastava trabalhar, obedecer, criar uma família e desfrutar dos eletrodomésticos, do cinema, dos bailes, da música e dos carros. Que carros. A maioria dos jovens de hoje apenas ouviu falar com certo ar de... será? As pessoas eram ávidas por ter uma geladeira, uma enceradeira, um liquidificador e também uma TV só para começar. O carro era um luxo também desejado, mas possível apenas para poucos.

Essa geração deu lugar a outra que entendo e batizo de geração diploma. Essa foi a minha geração que para poder ter um bom emprego tinha que se qualificar em uma escola técnica, talvez uma faculdade e depois trabalhar, constituir família, comprar uma casa própria e ter o carro. Eletrodomésticos passaram a ser quase que obrigatórios.


A próxima geração marcante é a geração que hoje tem entre 30 e 40 anos a qual batizo de geração “perdida” Perdida porque essa geração adolesceu e se deparou com um dilema terrível: estudar para quê? Não há emprego...

Enquanto os homens dessa geração deixaram de estudar e seguir o esquema de vida dos progenitores, as mulheres seguiram estudando e sonhando com algum tipo de trabalho. E conseguiram, pois as empresas passaram a demandar a substituição dos profissionais por elas que além de preparadas ainda ganhar menos. E querem casar, constituir família ter seu carro próprio, apartamento e frequentar academia, salão de beleza estética e analista, pois ninguém é de ferro.


Marido? Difícil encontrar um homem com formação a sua altura intelectual. Muitos casamentos ruíram porque essa geração de mulheres ficou sem muita opção, ou seja: ou sustentam o marido de mesma faixa etária ou partem para dividir a renda do marido de segunda mão com família desconstituída - conhecido como marido com carnet (em referência à pensão dos filhos oriundos do casamento anterior. Mal ou bem essa geração está aí. Enquanto na década de 90 as mulheres eram raras nas empresas, hoje esse contingente passa fácil dos 50% dos funcionários administrativos.


Surge agora a geração que batizei de parece ser... É a geração que está aí ingressando no mercado de trabalho, mas com outros sonhos. Querem empreender; sem saber muito o quê isso significa. Financiados pelos pais, querem ficar ricos, virar empresários, ser patrões. São facilmente seduzidos pela ideia de abrir uma franquia seja lá em que ramo for. Estão convencidos de que basta querer fazer para que tudo aconteça. Alguém já pensou e estudou o mercado e acredita que o ponto a ser explorado pelo franqueado é promissor. Então vamos lá. Há que se arriscar, vai que dá.

Enquanto isso não acontece, é preciso parecer: parecer estar dando certo, parecer ser inteligente, empreendedor, inovador, lutador e mostrar sinais de prosperidade com festas, shopping, estética e sim; os gadgets. Saber das últimas notícias fúteis é fundamental especialmente se estiver relacionado com escândalos tipo quem roubou namorado ou marido de quem, o que rolou nos reality shows, quem é a bunda da vez (desculpem o termo). O importante é estar por dentro e na moda mesmo que tudo não passe de ilusão.


É moda saber sobre a última starter que parece estar dando certo, onde estão as incubadoras, quem comprou quem, quem deixou de fabricar o que, quais os 7 novos apps mais baixados da semana. Afinal a internet está aí também para isso. Quem ainda não fez um curso online está defasado. Uops, já correndo fazer um.


O leitor que chegou até aqui poderá achar que autor é um chato ranzinza e estará acertando, pois no meio de tantas ilusões resta apenas uma pergunta: onde afinal queremos chegar? Mas esse será tema de uma próxima postagem: qualidade de vida.

Apesar de tudo, desejo boa sorte a essa geração.



Posts Destacados
Posts Recentes
Procure por Tags
bottom of page