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Ser ambicioso é bom ou ruim? Depende.

Idosos Alegres

Sim caro leitor, o conceito desse adjetivo qualificativo pode ser visto como característica positiva e portanto desejável e assume contexto elogioso bem como pode ser visto como característica negativa, indesejada e até pejorativa. O leitor pode achar que pirei, mas não.

Quando era criança, estudei os quatro primeiros anos escolares em um colégio de orientação jesuíta (inaciano) onde se difundiam as virtudes da humildade e simplicidade e neste sentido ambição não combinava e não era considerada virtude. Ambição estava relacionada à aquisição de poder, riqueza ou status.

Quando comecei a trabalhar, comecei a me defrontar com questionamentos profissionais como qual seria a minha ambição dentro da empresa. Como minha formação é de engenharia, ficava meio óbvia a resposta: queria trabalhar como engenheiro. Essa resposta saltava de forma espontânea e não conflitava com minha formação religiosa. Afinal estava vinculada a profissão.

Em determinado momento da minha carreira um colega me questionou se eu não ambicionava ser chefe. Aquilo soou de forma estranha para mim. Naturalmente ele estava me sondando para alguma posição. Respondi que gostava do que fazia, mas estava pronto para assumir uma chefia desde que representasse algum desafio e trouxesse algum benefício. Fooomm... resposta errada.

Isso ilustra como a formação do caráter de uma criança permanece mesmo após adulto. Se tivesse uma formação com menos ênfase na virtude da humildade (no caso quase sinônimo de pobreza) certamente minha resposta automática seria: quero ser gerente ou diretor.

Eugenio Mussak, colunista da Revista Vida Simples comentou em um de seus artigos que países de religião protestante são nações geralmente ricas e bem desenvolvidas justamente porque nessa religião não se enfatiza ou não se associa humildade com pobreza. A prosperidade é vista como fruto do trabalho e a ambição de ser próspero é uma virtude.

Mussak comenta que há tipos de ambição e aí é que reside a discrepância entre característica positiva ou negativa. Vejamos:

Ambição de ter. Se entende ter coisas, bens materiais ou dinheiro. Ter pouco é ruim, ter o necessário é pouco, ter muito é luxúria. Ops. Luxúria não é um dos pecados capitais? Pois é exatamente esse o conflito de muitos católicos. Muitos praticam caridade como forma de se redimirem e poder continuar desfrutando do fruto de sua prosperidade sem culpa.

Ambição de ser. Mais dubiedade ainda. Alguns podem pedir o complemento: ser o quê? Talvez ser culto, ser inteligente, ser elegante, educado. Ah bom então tá valendo. Ledo engano. Segundo um episódio de Cristo no templo, o cobrador de impostos ganhou o perdão de seus pecados porque pediu e reconheceu sua culpa Já o bom pagador religioso não teve o perdão justamente porque desfilou uma série de sua virtudes do bem. O episódio enfatiza que o devoto não foi humilde. Ops outro pecado capital pode ser lembrado aqui: a soberba. Passa-me o entendimento de que podemos ser, mas não podemos nos enaltecer de ser.., isto é; não vale ter orgulho. Na linguagem atual, não vale jogar confete sobre si.

Ambição de aprender. Muita gente tem sede de conhecimento. E curiosamente, desejar aprender é bom, mas aprender muito remete a ambição de ser culto, sábio, superior. Então recai na soberba. Está complicando? Talvez.

Ambição de fazer. Há muita gente com essa ambição e geralmente são de fato pessoas realizadoras, empreendedoras e querem sempre fazer mais. Ops, não sei porque me lembro da gula, outro pecado capital. Posso estar forçando, mas é o que vem na mente uma vez que a gula se associa a compulsão.

Ambição de mudar. Curiosamente há pessoas que anseiam mudar, claro que subentende mudar para melhor. Podemos achar que se quer mudar para algo mais justo ou algo mais lascivo, o que me lembra da preguiça. Hã? Acompanhe: queremos uma vida melhor que nos proporcione mais conforto, mais horas de lazer etc. Então queremos ter e ganhar o suficiente para desfrutar horas e horas de lazer e de prazer; prazer de não ter o que fazer no fim de semana, nas férias. Ou não?

Conclusão: penso que ter ambição é bom. Afinal sem ela ainda estaríamos migrando atrás das presas pelas savanas africanas. Mas quando alguma das ambições tenderem para a obsessão é bom rever os valores.

O leitor que chegou até aqui deve estar se perguntando onde quero chegar. Penso que essas conjecturas podem ser úteis para muitos.

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