Ok, o título soa um tanto parecido com um desabafo ou no mínimo um desalento para um engenheiro que aprecia coisas bem feitas e bem planejadas.
Temos no Brasil exemplos de cidades planejadas como Belo Horizonte, Brasília, Maringá. É claro que existem outras tantas cidades bem planejadas, mas arrisco dizer que talvez nenhuma delas previu seu exacerbado crescimento em tão pouco tempo. E com isso tome crescimento sem planejamento.
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O crescimento sem planejamento resulta em processos de reurbanização e reutilização após vinte ou trinta anos. Bairros que antes eram residenciais com casas e comércio se transformam em bairros mistos com prédios voltados para moradia ou escritórios.
A infraestrutura tenta acompanhar, mas os problemas são quase que inevitáveis.
A rede elétrica sofre redimensionamento, mas os postes antes adequados às poucas residências não são substituídos por rede subterrânea. A canalização de água potável, pluvial e esgoto continuam da forma idealizada tornando-se subdimensionada para a nova densidade populacional.
O que dizer então das praças dimensionadas para poucas mães e crianças, das ruas pensadas para trânsito local de poucos veículos, do seu pavimento feito para veículos leves. E também as próprias calçadas pensadas para a circulação de poucas pessoas.
A maioria das cidades brasileiras sofre do mesmo caos criado pelo “progresso” vertiginoso. Posso afirmar que nenhum engenheiro ou arquiteto do século passado imaginava que em apenas 50 anos todo seu trabalho seria taxado de mal planejado.
Não é bem assim. Ocorre que durante 2.000 anos, as cidades foram planejadas para uma densidade populacional completamente diferente da observada hoje. Nenhum engenheiro ou arquiteto fora contratado para criar uma megalópole de 10 milhões de habitantes.
Apenas no início deste século estamos testemunhando o nascimento de Metrópoles como ocorre na Ásia e Oriente médio. O transporte público já nasce subterrâneo. As ruas são planejadas para carros e ônibus circulares integrando-se com o metrô. Hospitais, escolas, comércio, lazer, turismo e negócios têm seu espaço e sua infraestrutura dimensionada para seu pleno funcionamento.
As garagens preveem certa capacidade dependendo da finalidade da edificação. Enfim, essas cidades estão sendo construídas pensando grande em tudo.
Certamente, lá não há ciclovia porque a temperatura ambiente não permite seu uso. Insolação é algo sério. Qualquer engenheiro ou pessoa de bom senso sabe que é irresponsável forçar a convivência de bicicletas com motos, carros, ônibus e caminhões.
Fico assombrado ao assistir um diminuto grupo defendendo a criação de ciclovias em uma cidade como São Paulo. Além das ciclovias há agora estacionamento de bicicletas compartilhadas nas ruas no lugar antes disputado por carros a estacionar em zona azul (espaço da rua com estacionamento pago).
Mas é preciso tentar. É preciso tentar fazer o povo usar bicicleta nos raros dias de sol e temperatura amena sem garoa. É preciso tentar para constatar que não funciona. Talvez seja preciso esperar a população revoltada exigir a desativação dessa idiotice.
Aqui em São Paulo são milhões de pessoas se locomovendo a pé, de carro, moto, taxi, ônibus, trem e metrô. Esses milhões de pessoas estão se privando do deficitário sistema viário para dar espaço a faixas vermelhas sem uso.
Haja tinta para pintar asfalto. Haja paciência e tempo para aturar o trânsito caótico. Haja lei e haja polícia para manter a ordem e a convivência civilizada. Haja psicólogos, analistas terapeutas e farmácia para remediar os nervos e a qualidade de vida de quem tenta sobreviver a esse caos.
A frota quintuplicou alegam uns. E parte dos novos veículos é frota reserva das famílias que adquiriram um segundo ou terceiro carro apenas para contornar a restrição de uso no dia de rodízio.
Enoja-me quando os vereadores aprovam leis que obrigam 100% dos ônibus a instalarem equipamento de elevação de cadeirantes, quando sai muito mais barato proporcionar transporte especializado para os cadeirantes irem onde precisam ir. Santo André foi talvez a primeira cidade a proporcionar essa modalidade essa solução inteligente, gratuita e humanitária.
Enquanto isso surge na mídia pessoas bem intencionadas tentando passar conceitos básicos de urbanismo dizendo é possível melhorar. Sim é possível melhorar se as soluções saírem de mentes preparadas para lidar com o planejamento urbano.
No passado, alguns políticos iluminados criavam concursos para projetos urbanos e muitas ideias eram adotadas com sucesso, pois escritórios de arquitetura, engenharia e urbanismo, bem como universidades e escolas se engajavam.
Quando foi que isso aconteceu no Brasil? Vou refrescar sua memória: Construção de Brasília.