Como ser criativo quando quase tudo já está pronto?
- Arnaldo dos Reis Santos
- 17 de jul. de 2015
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de fev. de 2022

Iniciei minha carreira como quase todo profissional formado, sabendo uma série de coisas teóricas e poucas práticas. Mas tinha uma vontade imensa de fazer algo significativo.
No meu primeiro trabalho fui logo alçado ao nível de gerente de Assistência Técnica e Peças de uma rede de concessionárias e estava ávido por saber como trabalhar. Naquela época fui instruído a unificar processos e disseminar as boas práticas. Comecei a observando como as coisas funcionavam e imaginava como poderiam melhorar. É claro que isso demanda certo tempo e esforço. Logo algumas pessoas começaram a se perguntar: afinal o que eu fazia na empresa? Na época eu não dava a mínima para isso.
Eis algumas constatações. Havia um número enorme de peças sem giro. Havia um número enorme de ferramentas especiais que poucos mecânicos sabiam para que serviam. Que dirá então saber como usa-las corretamente. E não havia inventário delas. Os pedidos de peças à fábrica eram feitos a partir da experiência prática dos chefes de peças “puro feeling”. As vendas eram passivas e apenas poucos clientes eram visitados ou contatados por telefone ou correspondência. Também não havia controle sobre o percentual de peças originais vendidas.

A única tecnologia utilizada para realizar os pedidos era o hoje obsoleto Cardex. Para quem não conheceu, tratava-se de um sistema de arquivo composto de fichas onde se anotavam manualmente o nome, o número, a localização, o preço de custo, o preço de venda e havia também campos para calcular alguns dados como o tempo que o estoque duraria baseado no histórico de vendas, custo médio etc.
Na época, a classificação A,B, C até podia ser feita, mas demandava um trabalho imenso. Isso permaneceu assim até o advento do computador e seus programas automáticos de cálculo, classificação e relatórios estatísticos e gerenciais a partir do final da década de 80.
Após 3 meses conhecendo os processos e todas as cinco filiais, decidi realizar algumas ações. A primeira foi inventariar todas as peças paradas há mais de seis meses e realizar uma promoção junto a clientes cadastrados além de outros grandes frotistas ainda não clientes.
Simultaneamente criei um código de cores para identificar rapidamente no Cardex quais peças estavam pedidas, quais deveriam ser pedidas e quais estavam em "back order" (pedidas mas pendentes). Obviamente bloqueei a reposição das peças sem giro. Na oficina realizei um inventário e criei um almoxarifado com painéis para afixar as ferramentas especiais ao mesmo tempo em que sucateei as ferramentas danificadas ou obsoletas.
Como se pode observar nada foi muito sofisticado. Podemos dizer que era até obvio, mas nem tanto naquela época. Elegi a mais antiga das filais para por em prática o plano.
Simples assim. Entretanto o mais complicado foi engajar as pessoas e convencê-las do propósito de cada ação. Apesar da cultura servil presente na época, havia resistência pois estavam acostumados a uma rotina de trabalho bruscamente afetada. Tudo isso não aconteceria nos dias de hoje simplesmente porque as teorias e processos administrativos de uma concessionária já são bem difundidos. Em outras palavras, tudo já existe. Então o que há para criar?
Ocorre que as formas de comercializar mudaram e os clientes têm acesso a uma infinidade de fornecedores ágeis e competitivos. Tudo acontece a uma velocidade várias vezes maior do que acontecia há 30 ou 40 anos atrás.
Quando comecei a trabalhar as empresas estimulavam a criatividade das pessoas instigando-as a encontrar novos usos para um simples clip de papel. Hoje isso seria no mínimo ridículo. Mas a criatividade continua sendo válida e depende de da mesma postura e atitude de 30 anos atrás. A criatividade depende de um espírito crítico e de um de um estado de inconformismo constante. Pergunte ao seu time: O que poderíamos fazer com um drone em nosso negócio?
E é graças a isso que hoje observamos uma efervescência incrível no mercado, pois novos produtos e serviços nascem, viram moda e desaparecem rapidamente.
O designer que profere a palestra foi muito feliz ao tocar no tema e citar exemplos de outrora bem como de hoje. O que os exemplos por ele citados têm em comum?
É o simples inconformismo com o status quo. É a ousadia de questionar o porquê das coisas serem assim, atitude típica de uma criança. Essa é a atitude que deve ser incentivada em todos os jovens e adultos de hoje e sempre.
Vale a pena conferir. Seja um revolucionário do bem.
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