O SEBRAE há alguns anos desenvolve um importantíssimo programa de formação, aconselhamento e suporte para aqueles que desejam ir mais além do simples e eterno sonho de empreender e ter seu próprio negócio.
Já vivi o suficiente para acompanhar três grandes recessões no nosso país com suas consequências óbvias de demissões em massa e longos períodos de estagflação. Aconteceram em 1.981, 1.982, 1.996. Em 2.015, a mesma situação volta a nos assombrar e mutilar nossa sociedade.
Nas três ocasiões anteriores, os conselheiros de plantão davam suas receitas de sobrevivência com as recomendações: trabalhe em vendas, abra ou compre uma loja, bar ou restaurante ou preste serviço terceirizado.
Foi uma época onde o RH foi fortemente desmontado nas empresas, assim como os departamentos de treinamento e desenvolvimento humano. Os departamentos de utilidades como gráfica e administração de materiais de consumo também foram desmontados.
Em 1996 surgiu uma nova recomendação: “compre” uma franquia. As indústrias enxergaram nas franquias uma nova opção de canal de distribuição e venda para seus produtos além dos já tradicionalmente existentes. Paralelamente as autoridades fizeram vistas grossas para o comércio ilegal (ou se preferirem informal) representado pelos camelôs de rua e as franquias não decolaram.
Recentemente se implantou no país uma verdadeira febre de franquias já não tanto patrocinadas pelas marcas existentes e sim por novas iniciativas sob a égide de startup. Observei várias pessoas desejando “comprar” alguma franquia achando que isso por si só lhes garantiria o sustento. A coisa não é tão simples assim.
Quando jovem ouvia com certa frequência o ditado: filho de peixe peixinho é. Aquilo me soava um tanto limitante e por isso nunca dei maior importância. Sim e não.
Tive a sorte de me formar técnico - talvez na mais renomada escola da época - e depois numa faculdade de renome e de grande aceitação na indústria automobilística. E naturalmente me sinto realizado com a carreira abraçada, pois pude atuar sempre nessa indústria.
Por várias vezes questionei se eu seria capaz de empreender, montar um negócio. Sentia que faltava algo além do capital. Em teoria sabia fazer contas, administrar estoques, controlar fluxo de caixa, comandar uma equipe, mas sentia falta de algo.
Esse algo faltante talvez tivesse raiz na própria formação acadêmica e familiar que me preparou para ser empregado. Ao buscar me informar sobre empreendedorismo isso ficou claro finalmente.
Lá pelas décadas de 80/90, apesar do esforço do SEBRAE, houve a meu ver um vácuo bastante difícil de ser preenchido. De um lado as escolas tradicionais continuavam formando gente com cabeça de empregado e por outro o mercado e o SEBRAE demandavam pessoas com espírito empreendedor e conhecimentos essenciais para um empreendimento.
Os conhecimentos essenciais o SEBRAE promove, mas o espírito empreendedor não. Talvez aí resida o grande dilema de nosso país. Precisamos de empreendedores, mas criamos e educamos empregados.
O governo apoiado pelas associações comerciais, em algum momento criaram programas fiscais e legais para as pequenas empresas mais para solucionar o informalismo da atividade empreendedora esquecendo que é salutar formar os empreendedores nas escolas básicas regulares abrindo os olhos e a mente para o pensamento empreendedor.
É de pequeno que se desenvolve o espírito empreendedor. Na nossa escola arcaica não desenvolvemos esse espírito. Felizmente observa-se um movimento de reestruturação curricular global e fatalmente essa tendência chegará até nós, copiadores contumazes.
O pequeno negócio é responsável pela geração de grande parte dos empregos. Curiosamente, são negócios comandados em grande parte por gente de baixa escolaridade, excetuando-se os negócios típicos de profissões liberais como advocacia, saúde e contabilidade.
Há enorme descompasso entre o que a escola entrega e o que o mercado precisa. Incrível como até hoje ninguém ousou explicitar isso de forma tão didática e evidente como o indiano Sugata Mitra. Ele vai além da causa. Ele propõe uma nova escola para as futuras gerações: uma escola na nuvem batizada por ele de SOLE - Self Organized Learning Environments.
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