Sempre trabalhei em equipes multidisciplinares tendo colegas mais experientes e também menos experientes. Todos nós trabalhávamos de forma harmônica, respeitando o trabalho uns dos outros e incentivando, ajudando e obtendo ajuda uns dos outros considerando a expertise e background acadêmico. A esse tipo de ambiente de trabalho chamávamos de trabalho em equipe (team work em Inglês).
Neste ambiente, por vezes um colega se sobressaía e era aplaudido tanto pelos colegas como pelos gerentes. Em outras oportunidades aquele que foi aplaudido pelo seu feito, estava lá a aplaudir o feito e a vez do outro ser homenageado e engrandecido pelo resultado de seu trabalho.
Aprendíamos uns com os outros e adquiríamos mais habilidades ao ajudar outros colegas a concluir seus objetivos (se entendia como “seus objetivos” os objetivos da empresa atribuídos a alguém ou a algum departamento da empresa). Costumávamos fazer relatórios e os relatórios eram circulados para que todos soubessem o que foi feito e quais os resultados, constituindo-se em mais uma forma de aprendizado e crescimento individual e coletivo.
Quando um novo funcionário ingressava, ele passava por uma imersão corporativa que incluía curso sobre produto, histórico da empresa, posicionamento no mercado local e global etc. Em seguida o novato passava por uma série de visitas aos demais departamentos. Por fim, o novato fazia uma viagem a campo acompanhando a equipe de vendas tendo contudo uma missão previamente estabelecida.
Ao término dessa fase preparatória, o novo funcionário tinha que fazer um relatório completo de tudo que fez e aprendeu e era avaliado por todos instrutores e chefes de departamentos visitados. Dessa avaliação saía um plano de desenvolvimento de médio e longo prazo. Uma das primeiras coisas enfatizadas era como que uma máxima para todos: A nossa concorrência fica do lado de fora da cerca, deixando implícito que qualquer disputa ou competição interna era desaprovada.
O leitor poderá pensar: isso era no seu tempo. De fato foi no meu tempo. Passados anos, viramos o século e na primeira década do novo milênio, assisti uma nova postura dentro das corporações. Uma espécie de vale tudo e pior: cada um por si e salve-se quem puder. Seria uma visão parcial? Antes de concluir consultei vários velhos amigos trabalhando em outras companhias, inclusive a que trabalhava antes. E todos confessaram ter a mesma percepção do ambiente de trabalho. Nesse novo ambiente, uma eventual ajuda era sem envolvimento, superficial e descomprometida.
As críticas não eram construtivas, mas irônicas, mitigando o êxito e o mérito alcançado por um colega ou atribuindo riscos não plausíveis a determinado projeto apenas para “melar” a ideia. Uma reportagem da revista Exame retrata bem a questão sob o título: As puxadas de tapete mais comuns no mundo do trabalho de autoria de Camila Pati.
Bem, eis que agora as corporações acordaram para o problema e passaram a incentivar, se não a exigir o trabalho em equipe agora repaginado como trabalho colaborativo. Velhas metáforas são reapresentadas fazendo menção às novas tecnologias disponíveis, como por exemplo, os programas online de edição de texto, planilhas apresentações, controle de projetos e tantos outros.
A palestra de Yves Mourieux no TedTalks - cujo formato sou fã - aborda importantes questões que envolvem o esgotamento do aumento da produtividade e a necessidade das empresas adotarem o trabalho em equipe ou se preferirem: trabalho colaborativo.
Aproveite.