top of page

Repórter ou Comentarista


Image courtesy of hyena reality at FreeDigitalPhotos.net.

Nos últimos anos tenho observado a crescente transformação dos noticiários televisivos. A transformação foi gradual, sutil sorrateira, mas consistente. Talvez poucas pessoas da minha geração e talvez nenhuma pessoa comum das gerações mais novas tenha observado. Afinal a referência foi gradualmente sendo perdida.

Não encontro uma maneira sutil de comentar sobre o contraste que eu observei entre o noticiário de décadas atrás com o pretenso noticiário de hoje. Preferências à parte; vou procurar ser bem específico. O noticiário televisivo de tempos atrás era caracterizado pela narração de um fato em si considerado de relevância para a população e valorizado pela busca da fidelidade aos mesmos.

Trocando em miúdos, o fato era simplesmente exposto ao telespectador que tinha a incumbência de absorver, interpretar, concluir e se desejasse comentar, o faria depois com os familiares, amigos e colegas de trabalho. Tornaram-se famosos os programas que seguiam essa conduta.

Existiam sim alguns programas jornalísticos voltados ao debate, mas era explícito o caráter de opinião dos comentaristas contratados ou convidados a comentar assuntos. Os programas com essa característica eram bastante focados em assuntos controversos como futebol e política. O repórter fazia o papel de mediador e os convidados teciam suas opiniões. O telespectador podia então decidir quem estava com a razão e formava sua própria opinião.

O noticiário televisivo de hoje se caracteriza não pela narração e precisão dos fatos, mas dedica talvez a metade do tempo para tecer sua opinião muitas vezes pessoal. É impressionante como todos os noticiários televisivos praticam essa distorção. Atrevo-me a caracterizar a tendência como distorção. Por quê? Pense bem; você liga a televisão para saber dos fatos ou para ouvir a versão interpretada, comentada e insinuada do repórter?!

Ao telespectador não lhe é dada a opção de ver, interpretar, concluir e comentar se desejar fazê-lo com seus familiares etc. Isso acontece em função da velocidade com que os comentários são feitos misturando assuntos irrelevantes de cunho emocional como a gracinha de um cachorrinho com um acidente de trânsito entrecortado com um crime brutal ou um ato político do prefeito ou da câmara municipal. Quando o narrador não opina, ele colhe testemunhal de pessoas na rua as quais tecem suas falas mal elaboradas, porém inflamadas, emocionadas e, portanto tendenciosas tomando partido a favor ou contra a respeito de algum fato não confirmado.

A impressão que passa é que os responsáveis pelos noticiários concluíram que uma vez que o povo é em sua maioria ignorante, é função do noticiário prover o juízo do fato, reservando 60% do tempo de uma notícia ao comentário do “repórter”. Em síntese, na cabeça desses “responsáveis” cumpre a eles formar a opinião do povo, já que o povo não é capaz de ajuizar por si.

Você deve estar se perguntando por que motivo eu estou fazendo essa comparação. Decidi fornecer essa visão a partir da minha observação crítica de vários jornais televisivos da rede aberta de televisão brasileira em contraste com os jornais televisivos dos canais pagos de outros países especialmente os europeus.

É gritante a diferença da narrativa. Bem, não vou opinar, vou apenas convidar o leitor a comparar e refletir.

Posts Destacados
Posts Recentes
Procure por Tags
bottom of page