Certamente você nem sabe o que é jasismo. Claro que não. Eu inventei o termo para classificar a mania, o hábito instituído há uns quarenta anos atrás, quando o atendimento expresso, a rapidez, o imediatismo começaram a ser valorizados pelos brasileiros na esteira do fast food, da tele pizza, do churrasco a rodízio, do self service, do almoço por quilo, do FedEx, do cartão de crédito, do lava a jato e inúmeros serviços rápidos inventados ao longo desses últimos anos.
Sim, aconteceu gradativa e perniciosamente na onda da produção em massa de produtos de consumo, dos serviços tornados urgentes e da supervalorização do tempo de um tipo de cliente insatisfeito com a vida vivida pelos seus pais e avós.
O mundo todo embarcou nesse frenesi da otimização dos processos envolvidos na produção de bens e serviços. Até mesmo na medicina aconteceu o tal do pronto-socorro para casos urgentes até mudou de nome: agora é Pronto Atendimento. E assim os médicos foram especializados para o atendimento imediato de casos graves com risco de vida.
O famoso termo inventado pela Toyota: JIT “Just in Time” significa “Na hora certa” foi criado para reduzir o máximo possível o estoque nas linhas de produção e nas fábricas pois, o estoque das peças necessário para manter a produção funcionando sem interrupção tinha um custo desnecessário.
Ok, depois dessa divagação, voltemos ao jasismo. O brasileiro se tornou famoso pelo seu jeitinho. Inventaram até mesmo um termo: o jeitinho brasileiro que nada mais é que a interpretação e adaptação das culturas americanas e europeias a sua (nossa) realidade.
Surge então o jasismo. Qual brasileiro não ouviu alguma vez frases como:
- Já, vou lhe atender...
- Já ordenei seu pedido...
- Já estou encaminhando seu pedido...
- Já, já vou lhe atender...
- Um minutinho e você já será atendido...
- Dentro de um minuto já estarei lhe atendendo.
- Já estou lhe encaminhando para o fulano...
- Já, já, já...
Decidi homenagear esse vício de linguagem pois, o brasileiro é digno de análise pela NASA. O nosso JIT é JAS - o jasismo. Não importa se o cliente será atendido imediatamente, em uma hora, em um dia ou uma semana. O já estará presente em qualquer forma de atendimento. E a maneira de manter o cliente é o feed-back.
Você já reparou os atendimentos telefônicos? A cada 30 segundos o atendente volta a lhe falar que já fez isso ou aquilo e logo você será atendido. A cada prazo não cumprido, o prestador de serviço lhe retorna com uma desculpa pela demora e com isso ganha mais algum tempo para cumprir sua promessa. O que era para ser feito ou entregue em 5minuto vira uma hora sem que você fique “puto” e cancele o pedido graças ao jásismo.
O Uber, O 99 e outras plataformas de serviço de transporte inventaram o fode back reverso. Do nada, o motorista que aceitou sua solicitação de transporte (um serviço) lhe informa via aplicativo que não vai lhe atender. O criativo foda-se surgiu porque uma corrida mais compensadora apareceu. Nos pontos de taxi ocorre algo parecido como: vou atender uma chamada telefônica... Estou na hora do almoço, estou recolhendo...
Isso ocorre porque o seu pedido de transporte não compensa. A viagem é curta, o taxi vai perder a fila no ponto. Se o taxi lhe atender, não poderá buscar as crianças na escola (serviço sob encomenda recorrente).
Hoje de manhã, assisti a um repórter até famoso apresentando uma reportagem. Pasmem. Em poucos segundos ele proferiu 4 jás.
Bem; antes que você se aborreça, já vou estar encerrando este post. Já fui.
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