Os empresários brasileiros costumam não dar valor aos profissionais de engenharia. Talvez uma exceção seja o caso do engenheiro civil. Nesta especialidade, as empresas foram crescendo graças às obras tocadas pelos governos em níveis federal, estadual e municipal.
O Brasil se tornou competente a ponto de ganhar licitações internacionais, primeiro com o Iraque e mais recentemente com vários países africanos e sul-americanos.
A engenharia brasileira adquiriu competência e competitividade graças também à ousadia ao financiar obras no exterior através dos bancos de fomento nacionais. O Brasil aprendeu que não há execução de obra sem financiamento governamental.
Recentemente, tive contato com um senhor humilde, prestador de serviços de manutenção de telhados. Na conversa falamos de família e ele deixou escapar que sua filha está se formando em Engenharia Ambiental. Eu me surpreendi pois nunca havia ouvido falar dessa especialidade. Entretanto fiquei impressionado com a visão de futuro da filha deste senhor.
Por coincidência, poucos dias depois assisti a um vídeo sobre uma startup holandesa que ganhou um concurso promovido pela prefeitura de Amsterdam. E a ideia proposta pela startup foi muito simples, tão simples quanto genial pela sua eficácia e baixo custo.
Todos nós sabemos da importância e urgência de reaproveitar a enorme quantidade de plásticos utilizados em embalagens que substituíram as inúmeras embalagens de papelão ondulado com vantagens, seja pelo custo, seja pelo peso, volume ou impermeabilidade.
O plástico pode até envelopar pallets dispensando as cintas de metal antes usadas para amarração. Só que ao proporcionar uma solução, o plástico gerou um problemão. O que fazer com toneladas e toneladas de plástico? Os países com pouca área não podem criar os lixões por cerca de cem anos. Então, resolveram alugar áreas na África para armazenar seus lixos.
E nessa solução contrataram navios para levar o lixo provenientes de embalagens feitas de plástico, ferro, alumínio e papelão. Entretanto não há legislação nem controle internacional sobre esse tipo de transporte e muitos dos navios contratados simplesmente despejaram sua carga em alto mar, aumentando o seu lucro.
O problema chegou a tal ponto que as organizações não governamentais, a imprensa investigativa independente e até mesmo alguns países subdesenvolvidos começaram a denunciar tais práticas.
Isso se dá, pois a Europa e os EUA têm o costume de acusar os países subdesenvolvidos de lançarem seus plásticos em rios e, como se sabe, todos desaguam no mar e atingem outros países e regiões de águas internacionais.
A consequência do descarte de plásticos nos rios e mares é que peixes e animais marinhos em geral ingerem os plásticos e morrem. Ocorre que esses mesmos países sem-terra abundante dependem da pesca em águas internacionais. E sua “solução” de exportar seus lixos virou um “tiro no pé”.
Os países baixos, a Dinamarca, a Noruega e outros países “sem-terra” criaram um paradoxo: produzem lixo e esse lixo está acabando com sua fonte de alimento e renda.
O que fazer? os países "sem terra" deveriam comprar terras e emigrar para a América / África ou resolver o problema da geração e reaproveitamento (reciclagem) do plástico. Não se iluda, caro leitor: Amsterdam não é tão lindinha como querem nos fazer crer. Há uma questão de sobrevivência.
E é aí que entram os engenheiros de todas as especialidades a pensar em uma solução para o problema criado por outros engenheiros, nem sempre consequentes.
Assistam ao vídeo que me inspirou a escrever sobre esse tema e reflita se não há marketing insinuando que esses países estão “fazendo” a sua parte.
Os Estados Unidos depositam carros, aviões no deserto e criam cemitérios de navios no mar batizando-os de berçários marinhos. Ora, desde quando a natureza precisa de “berçários” artificiais? Por que não reciclam o alumínio de seus aviões obsoletos?
Cabe ressaltar que não me considero um ativista ambientalista. Sou apenas um engenheiro e ser consequente. Aprendi que tudo tem seu custo, seja monetário, seja ambiental ou social.
Se você produz uma geladeira com chapas de ferro sem tratamento anticorrosivo, ela irá durar poucos anos. Se você é o fabricante, logo perderá seus clientes. Se você é o consumidor, logo perderá seu eletrodoméstico.
Se você produz lixo e não recicla, logo viverá no lixo. Hoje em dia, a agricultura está redefinindo o conceito dos fertilizantes NPK, implantado na década de 50. Vide: https://pt.wikipedia.org/wiki/NPK
Descobriu-se que após anos de cultivo com suplementação NPK, a terra morre e torna-se infértil porque faltam os micro-organismos vivos que só existem graças ao processo natural de desfolhamento, vida selvagem e ausência de agrotóxicos.
Os agrotóxicos matam os insetos devoradores das lavouras, mas também matam o bioma da terra fértil. Trata-se de um paradoxo cruel. Para produzir mais precisamos de NPK e agrotóxicos. Mas ao utilizá-los matamos o bioma da terra.
por outro lado, criamos os lixões. Estes contaminam o aquífero existente no subsolo com seu chorume. E, portanto, torna a água mineral oriunda dos rios subterrâneos imprópria para o consumo. Isso pode significar que se tivermos um lixão próximo do seu poço artesiano, sua provisão de água estará contaminada e imprópria para o consumo.
Então está na hora de mudar: menos consumismo, menos desperdício, menos frenesi e mais otimização.
Por exemplo; o transporte individual é bom numas. É hora de repensar a necessidade de ter um carro e quem sabe alugar um quando necessário viajar. Seu trabalho é longe da sua casa? Repense.
As cidades precisam encolher em tamanho e as fábricas precisam ser instaladas de forma que os caminhões andem carregados nos dois sentidos.
O Brasil precisa usar mais as poucas ferrovias e usar mais a cabotagem. E são os engenheiros que podem contribuir com o raciocínio lógico necessário ao planejamento logístico.
Não podemos mais concentrar a indústria em somente um estado. Temos feito progresso nesse sentido. Outros estados têm atraído indústrias que além de gerar emprego, retém o povo trabalhador nas cidades onde vivem. Por outro lado, é preciso ter planejamento federal para coordenar e dar subsídios aos estados e municípios de forma adequada.
Plantar onde pode houver mais produtividade, criar pastos em áreas extensas, porém criar gado de forma menos devastadora e diversificar a ração. Por exemplo, no Ceará estão plantando dois tipos de cactos e com eles produzem uma ração bem aceita pelos animais. A EMBRAPA é uma ótima fonte de pesquisa e tecnologia. Os fazendeiros precisam acolher as novas tecnologias que a EMBRAPA gera.
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